Ética epicurista
Epicuro (341-270), nascido em Samos, de família ateniense, mudou-se para Teos (ao norte de Samos, costa da Ásia Menor), aos 14 anos, para seguir as lições de Nausífanes, discípulo de Demócrito. Aos 35 anos, estabeleceu-se em Atenas, onde fundou sua escola filosófica, a qual, por situar-se num jardim junto aos muros da cidade, ficou conhecida como O Jardim. Sua escola ficou conhecida não apenas pelo seu ensino, mas também pelo cultivo da amizade, a Amizade Epicurista, da qual participavam não apenas homens (como acontecia na Academia de Platão e no Liceu de Aristóteles), mas também mulheres. (FILHO, 2009)
Segundo Diekazeye (2019), Epicuro escreveu mais de 300 trabalhos, dos quais nenhum sobreviveu; deles restam notícias de seus discípulos ou alguns fragmentos. Sua filosofia é de cunho materialista, não havendo espaço para a imortalidade.Alguns de seus seguidores foram Hermarco, Polistrato, Metrodoro de Lâmpsaco, Timócrates etc., os quais, apesar de suas variantes pessoais, apresentaram um pensamento bastante próximo ao do mestre Epicuro.Para Filho (2009), Epicuro talvez tenha sido o primeiro a elaborar uma filosofia que fosse, ao mesmo tempo, visão de mundo e forma de vida. Certamente este também era o espírito de pensadores como Platão e Aristóteles, mas Epicuro viveu as solicitações do novo mundo, que o fizeram sentir com outra intensidade a necessidade de responder a essas questões, concebendo agora o ser humano a partir de outros referenciais. Com efeito, no quadro cosmopolita que lança as bases da compreensão do valor de cada ser humano, Epicuro criticou o que ele considerava como o espiritualismo de Platão, do qual a doutrina de Aristóteles seria apenas uma variante, pois ambos afirmavam a existência de uma dimensão supra-sensível ou inteligível como superior ao sensível e como fundamento dele. Para Epicuro, ao contrário, não haveria nenhuma dimensão inteligível, pois a phýsis ou o elemento físico primordial constituía toda a realidade. Não haveria nada além da natureza que experimentamos pelos cinco sentidos; nada nos leva a crer em algo para além da natureza física. (Idem)
Lá no Jardim, Epicuro escreveu com detalhes a filosofia que iria se tornar conhecida como epicurismo.
Definição do epicurismo
Segundo Diekazeye (2019), o epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de liberação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do mundo e da limitação dos desejos. Já quando os desejos são exarcebados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade que é de manter a saúde do corpo e da serenidade do espírito, ensinado por Epicuro, e os seus discípulos foram denominados epicuristas porquanto seguiram o pensamento do mestre.
Segundo Epicuro, para ser feliz seria necessário controlar os nossos desejos de maneira que o estado de prazer seja estável e equilibrado, com um consequentemente estado de tranquilidade e de ausência da perturbação.
O filósofo acreditava que o maior bem é a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de tranquilidade, chamado de ataraxia, e de libertação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal, conhecido como aporia; por meio do conhecimento do mundo e da consciência da limitação dos desejos. A combinação desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma mais elevada. A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas bastante prática. Buscava sobretudo encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados.
Elaboração ética de Epicuro
Segundo Filho (2009), Epicuro elabora sua ética com base em três princípios fundamentais: (a) a correta compreensão da natureza dos deuses e a consequente eliminação do seu temor; (b) a correta compreensão da natureza da morte e a consequente eliminação do seu temor; (c) a correta compreensão da natureza dos desejos e a sua consequente boa vivência.
Tais preceitos estruturam o texto conhecido de Epicuro, intitulado Carta sobre a felicidade (Perì tês eudaimonías), ou Carta a Meneceu (um de seus discípulos), que pode ser dividido em 6 grandes partes: exortação ao filosofar; consideração dos deuses; consideração da morte; consideração dos desejos; o prazer e a vida feliz; o prazer é o início e o fim da vida feliz; a conclusão da carta. (FILHO, 2009)
Exortação ao filosofar
Epicuro exorta a todos a filosofar, pois para ele, ninguém é muito jovem ou velho demais para alcançar a saúde da alma. Ele afirma que a felicidade é o resultado da filosofia.
Consideração dos deuses
Epicuro diz que para se buscar a felicidade, é necessário considerar a natureza dos deuses buscando compreendê-los e nessa busca Epicuro percebe que os deuses não fazem parte do mundo físico e sequer têm influências sobre nós, daí, a ideia é não ter medo dos deuses.
Consideração da morte
Para Epicuro, aquele que busca a felicidade é obrigado a investigar também a natureza da morte a fim de saber se a morte deve ou não despertá-lo medo.
Epicuro exorta aos seus leitores a considerarem a morte como nada, pois o sábio não desdenha viver e nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e deixar de viver não é um mal.
Consideração dos desejos
Segundo Epicuro, o conhecimento seguro dos desejos permite direcionar toda escolha e toda recusa em função da saúde do corpo e da serenidade do espírito. Ele classifica os desejos como:
Naturais e necessários: os que eliminam a dor, como a bebida e a comida;
Naturais, mas não necessários: os que somente dão cor ao prazer, mas não extirpam a dor, como os alimentos refinados;
Nem naturais nem necessários: as coroas e as estátuas, por exemplo.
O prazer e a vida feliz
Epicuro dedicou-se a investigar o que seria prazer e para a sua análise (do prazer) pós-se a analisá-lo com a posse da saúde do corpo e da serenidade da alma. Na posse disso, os humanos ficam satisfeitos e não sentem necessidade de nada. Mas tem vezes em que devemos evitar os prazeres quando deles advém efeitos desagradáveis.
Ele afirma que, se o que move nossa conduta é a busca do prazer, será sábio quem for capaz de calcular correctamente quais actividades que nos proporcionam maior prazer e menor sofrimento, ou seja, quem conseguir levar a sua vida calculando a intensidade e a duração dos prazeres, desfrutando dos que têm menos consequências dolorosas e dividindo-os com moderação ao longo da existência.
As condições que tornam possível a verdadeira sabedoria e a autêntica felicidade são: o prazer e o entendimento reflexivo.
Conclusão da carta
Na conclusão da sua carta Epicuro exorta o leitor a meditar constantemente sobre o seu conteúdo e assegurando-lhe que, se o fizer, será como um deus, pois um mortal que vive entre bens imortais assemelhar-se a um ser imortal
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