A FILOSOFIA HELENÍSTA E A PREVALÊNCIA DO PROBLEMA MORAL
Características Gerais do período helenístico
O Helenismo é o fenômeno da universalização da língua e da cultura gregas, de sua expansão pelos países orientais (Ásia Menor, Egipto, Pérsia), que os exércitos de Alexandre tinham aberto à influência espiritual da Grécia.
O período da história da Filosofia conhecido como helenista é caracterizado pelo surgimento de várias escolas filosóficas, dentre as quais se destacam o estoicismo (que encontra em Zenão de Cítio um de seus maiores expoentes), o epicursimo (nome devido a seu máximo representante, Epicuro), o ceticismo (também conhecido por pirronismo devido a Pirro de Élida) e o cinismo (de Diógenes).
A filosofia helenista geralmente é considerada como a fase final da Filosofia Grega, que vai do fim do séc. IV a.C. até o VI d. C., fazendo a ponte entre o período antigo e o medieval, marcadamente por seus dois momentos (o moral e o religioso).
A conquista da Macedônia e a consequente mudança da vida política e social do povo grego encontra expressão no caráter fundamental da filosofia pós-aristotélica. É costume exprimir tal característica dizendo que este período da filosofIa é assinalado pela prevalência do problema moral.
A investigação filosófica no período que vai de Sócrates a Aristóteles dirigira-se para realização da vida teorética, entendida como unidade da ciência e da virtude, isto é, do pensamento e da vida. Mas destes dois termos, que já Sócrates unificava completamente, o primeiro prevalecia nitidamente sobre o segundo. Para Sócrates a virtude é e deve ser ciência e não há virtude fora da ciência. Platão conclui no Filebo os aprofundamentos sucessivos da sua investigação dizendo que a vida humana perfeita é uma vida mista de ciência e de prazer, na qual a ciência prevalece. Aristóteles considera a vida teorética como a mais alta manifestação da vida do homem e ele mesmo encara e defende com a sua obra os interesses desta actividade, levando a sua investigação a todos os ramos do cognoscível. Só a partir dos Cínicos o equilíbrio harmônico entre ciência e virtude se rompe pela primeira vez: eles puseram o acento no peso da virtude em detrimento da ciência e tornaram-se partidários de um ideal moral propagandístico e popular, chegando a ser gravemente infiéis aos ensinamentos do seu mestre.
Mas a rotura definitiva da harmonia da vida teorética a favor do segundo dos seus termos, a virtude, encontra-se na filosofia pós- aristotélica. A fórmula socrática – a virtude é ciência – é substituída pela fórmula a ciência é virtude. O objetivo imediato e urgente é a busca de uma orientação moral, à qual deve estar subordinada, como ao seu fim, a orientação teorética. O pensamento deve servir a vida, não a vida o pensamento. Na nova fórmula, os termos que na antiga encontravam a sua unidade são opostos um ao outro, de modo que se sente a necessidade de escolher entre eles o termo que mais importa e subordinar-lhe o outro. A filosofia é ainda e sempre procura; mas procura de uma orientação moral, de uma conduta de vida que não tem já o seu centro e a sua unidade na ciência, mas subordina a si a ciência como o meio ao fim.
Para resolver os problemas éticos nesse período de profundas transformações, surgiram quatro grandes movimentos filosóficos: o estóico, epicurista, cético e eclético.
O Estoicismo
O Estoicismo, de Zenão de Cítio (320 A 250 a.C.
O estoicismo é o movimento filosófico mais original do período do helenístico e também o que teve a duração mais longa: fundado nos fins do século IV a.C., continuou a florescer até depois do século III d.C.
Os representantes desta escola, conhecidos como estóicos, defendiam uma atitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo termo gregoapathéia (que costuma ser mal traduzido por “apatia”), era alcançar uma serenidade diante dos acontecimentos fundada na aceitação da “lei universal do cosmos”, que rege toda a vida;
A felicidade, como sumo bem, consistia na apatia, ou eliminação das paixões.
EPICURISMO
O Epicurismo, de Epicuro (324-271 a.C)
O epicursimo, fundado por Epicuro de Samos, é uma filosofia que se contrapõe ao estoicismo. É essencialmente materialista, mecanicista, sensitiva e hedonista.
Propunha a idéia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida. No entanto, distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e sofrimentos, pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões (prazeres corporais como comer em excesso, dormir em excesso, beber em excesso, a busca de prazeres sexuais sem limites, fumar etc).
Os epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego que usavam para designar o estado em que não havia dor (aponia), de quietude, serenidade, imperturbabilidade da alma (ataraxia). O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro;
CEPTICISMO
O Cepticismo (pirronismo), de Pirro de Élida (365-275 a.C).
O termo cepticismo vem de sképsis, que significa "investigação", "procura". Ele quer indicar mais precisamente que a sabedoria não consiste no conhecimento da verdade, mas na sua procura.
Segundo suas teorias, nenhum conhecimento é seguro, tudo é incerto, ou seja, não existe verdade absoluta. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria impossível ao homem saber se as coisas são efectivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é considerado uma forma de cepticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta;
CINISMO
O Cinismo - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”, e designa a corrente dos filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”, ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos. São inúmeras as histórias e acontecimentos na vida desse filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.
Ambas as Escolas têm como eixo comum a busca pela Felicidade (eudaimonia), ou seja, a realização pessoal em meio à sociedade.
Fonte:
ABAGNANO, N. História da Filosofia. Volume III. Trad. bras. Armando da Silva Carvalho. Lisboa: Editorial Presença, 1969.
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2005.
MONDIM, Baptista. Introdução a filosofia. Paulus, São Paulo, 1980.
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