O Existencialismo e a vida como destino para a morte
1. O existencialismo
foi uma corrente filosófica que mais chamou a atenção após a segunda guerra mundial. Tem suas raízes no pensamento de filósofos do século XIX, com Kiekegaard e Nietzsche.
O existencialismo surgiu nos anos de 1940 e 1950, como resposta às tragédias vivenciadas pela Europa durante a segunda guerra mundial, constituindo-se em uma corrente filosófica que ultrapassou as paredes das universidades, influenciando diversas áreas como, o jornalismo, os intelectuais, a poesia, os romances, o teatro, o cinema e as demais manifestações culturais daquela época.
Para o existencialismo não existe determinações naturais ou de qualquer outra espécie que fazem o homem seguir este ou aquele caminho, nem uma essência pré-determinada que direciona a vida humana a um destino imutável. O homem devido a sua estrutura mental, atribui sentido lógico ao mundo e a si mesmo, sendo que tal sentido não é determinado por nada. No entanto, o centro das reflexões do existencialismo é a existência humana, o homem concreto.
O homem não deveria se fiar em esperança futura, em uma vida após a morte, como o objectivo e sentido de sua vida, mas sim deve buscar no quotidiano o sentido e a realização de sua existência.
Os filósofos existencialistas negam a crença de que o sofrimento possa levar a uma realidade transcendente melhor e que, por isso o homem deveria assumir uma postura de passividade diante do mundo e de si mesmo. O homem deveria buscar, com suas próprias forças transpor os obstáculos que se colocam à sua realização e, construir sua vida a partir de sua própria consciência, empenhando-se para superar suas limitações, sem ilusões e superstições, construindo a si mesmo e buscando a felicidade na vida concreta.
Uma das origens do existencialismo encontra-se na fenomenologia, movimento elaborado por Edmund Husserl.
A fenomenologia
Acompanhando o pensamento de René Descartes, Husserl afirmava que a consciência humana é inquestionável e consiste na origem de qualquer conhecimento. Assim, a investigação acerca do mundo e das coisas imateriais não ocorre na coisa em si, mas na sua representação na mente humana, no fenómeno dessa coisa.
O homem não não deveria buscar o objecto em si, uma vez que que ele não pode ser alcançado e nem sequer pode ser provada a sua existência, pelo contrário, para conhecer o mundo, o sujeito deve se prender unicamente na consciência do objecto representado em sua mente. Portanto, o homem deve abandonar as perguntas sobre o mundo em si mesmo, porque ele não está acessível, devendo se preocupar com a representação do mundo em sua mente, já que não há dúvidas quanto à existência desta representação, a qual está directamente aberta à investigação humana.
A fenomenologia pertenceu a uma corrente Corrente conhecida como filosofia da consciência ou filosofia da subjectividade, sendo que sua preocupação era pensar a consciência reflexiva do homem sobre o mundo. Logo, de acordo com essa corrente filosófica, não haveria mais problemas para escolher entre o realismo e o idealismo, uma vez que o conhecimento consistia em uma representação do mundo na mente do homem.
A fenomenologia é o método e a filosofia que fornecem os conceitos básicos para a reflexão existencialista.
O postulado básico da fenomenologia é a noção de intencionalidade pela qual se considera que toda consciência é intencional, tende para algo fora de si.
Isso significa que, contrariamente ao que afirmavam os racionalistas do século XVI, e os empiristas, toda consciência é consciência de alguma coisa e, não há objecto em si, já que o objecto é sempre para um sujeito que lhe dá significado.
O método fenomenológico
O método fenomenológico baseia-se na observação e na descrição do fenómeno, fundamentando-se na observação e na descrição daquilo que aparece à consciência na mente humana.
Constitui-se como uma investigação sistemática da consciência e de seus objectos, os quais se definem na relação que mantém com os estados mentais, não havendo distinção entre aquilo que é percebido e a percepção humana.
A experiência inclui, assim, não só a percepção sensorial, mas todo o objecto do pensamento.
O método fenomenológico de Husserl serviu como uma das mais importantes bases para o existencialismo, uma vez que essa corrente filosófica se deteve não no mundo em si mesmo ou na crença de que existiriam essências anteriores ao homem e a sua consciência. Mas sim, na ideia de que era possível fazer uma análise fenomenológica do mundo moral, da vida e das experiências humanas sem que, para isso, fosse necessário prender o pensamento em algo pré-estabelecido ou com existência independente do homem. Nesse aspecto, encontra-se a ideia mais importante do existencialismo Sartriano, a qual afirma que a existência precede a essência, ou seja, que o homem constrói a partir do seu pensamento, a sua vida de acordo com as suas representações de sua existência.
No campo do existencialismo, dois filósofos merecem destaque: Heidegger, um dos mais importantes filósofos do existencialismo, e Sartre, considerado o mais representativo pensador existencialista.
2. Martin Heidegger (1889-1976)
Heidegger, discípulo de Husserl, na obra Ser e Tempo usa o método fenomenológico para discutir e elaborar uma teoria do ser. Para tal, Heidegger parte da análise do ser do homem, que ele denomina Dasein. Esta expressão alemã significa o ser-aí, ou seja, o homem é um ser-no-mundo. Retomando a noção de intencionalidade, o ser humano não é uma consciência separada do mundo: ser é estourar, eclodir no mundo. O ser-aí não é a consciência separada do mundo, mas está numa situação dada, toma conhecimento do mundo que ele próprio não criou e ao qual se acha submetido num primeiro instante. A isso chamamos facticidade. Assim, além da herança biológica, o homem recebe a herança cultural que depende do tempo e do lugar em que nasceu.
A partir do ser-aí, Heidegger demonstra a especificidade do ser do homem, que é a existência.
Se o homem é lançado no mundo de maneira passiva, pode tomar a iniciativa de descobrir o sentido da existência e orientar suas acções em direcções mais diversas. A isso se chama transcêndencia. No processo, o homem descobre a temporalidade, pois, ao tentar compreender o seu ser, dá sentido ao passado e projecta o futuro. Ao superar a facticidade, atinge um estágio superior, que é a Existez, a pura existência do Dasein.
Tal passagem, porém não é feita sem dificuldade, pois o homem, mergulhado na facticidade, tende a recusar seu próprio ser, cujo sentido se anuncia, mas ainda se acha oculto. A angústia retira o homem do quotidiano e o reconduz ao encontro de si mesmo. A angústia surge da tensão entre o que o homem é e aquilo que virá a ser, como dono do seu próprio destino.
Do sentido que o homem imprime à sua acção, decorre a autenticidade ou a inautenticidade da sua vida, o homem inautêntico é o que se degrada vivendo de acordo com verdades e normas dadas. A despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que anula qualquer originalidade. E é o que Heidegger chama mundo do man e que designa a impessoalidade. Ao contrário, o homem autêntico é aquele que se projecta no tempo, sempre em direcção ao futuro. A existência é lançar-se contínuo às possibilidades sempre renovadas.
Entre as possibilidades, o homem vislumbra uma privilegiada e inexorável morte.
O ser-aí é um ser-para-a-morte. A máxima situação-limite, que é a morte, ao aparecer ao quotidiano possibilita ao homem o olhar crítico sobre sua existência. É a característica de inautenticidade abordar a morte enquanto morte na terceira pessoa.
Embora tenha se preocupado com a questão da existência, Heidegger recusa ser enquadrado entre os filósofos existencialistas, argumentando que as reflexões acerca da existência são, na sua filosofia, apenas introdução à análise do problema do ser e não propriamente da existência pessoal.
3. Sartre e o existencialismo
O existencialismo Sartriano sofreu influências de Husserl, Heidegger, Jaspers e Max Scheler, chegando até as obras de Kiekegaard.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) escreveu O Ser e o Nada, em 1943.
Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela segunda guerra mundial e pela ocupação nazista da França. O impacto da resistência francesa teve influências sobre sua concepção política de engajamento. Engajamento significa a necessidade de o pensador estar voltado para a análise da situação concreta em que vive, tornando-se solidário nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. Pelo engajamento, a liberdade deixa de ser apenas imaginária e passa a estar situada e comprometida na acção.
Sartre pertence à ala dos filósofos existencialistas ateus, entre os quais se inclui Merleau-ponty; na ala Cristã, está Gabriel Marcel.
Essência e existência
A existência precede a essência. Eis a frase fundamental do existencialismo. Para compreender o significado dela, é preciso rever o que quer dizer essência. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, e não outra coisa.
Uma pessoa que crê em Deus, supõe que ele seja o artífice superior que criou o homem segundo um modelo, tal qual o artesão faz qualquer objecto. Daí deriva a noção de que o homem teria uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, segundo essa concepção, a essência do homem precede a existência.
Sendo ateu, Sartre não idêntica a fabricação de coisas ao fazer-se do homem, e não aceita a concepção de criação divina a partir de um modelo. Por isso especifica que, ao contrário das coisas e animais, no homem a existência precede a essência, isso significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo. E só depois se define. Conforme Sartre, o homem se não é definivél, é porque primeiro não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele deseja após este impulso para a existência. O homem não é mais que o que ele faz.
A liberdade e a angústia
A diferença entre o homem e as coisas é que o homem é livre. O homem nada mais é que um projecto. A palavra pro-jecto significa, etimologicamente ser lançado adiante, assim como o sufixo ex da palavra existir significa fora. Só o homem existe (ex-siste) porque o existir do homem é um para-si, ou seja, sendo consciente, o homem é um ser-para-si, pois a consciência é auto-reflexiva, pensa sobre si mesma, é capaz de pôr-se fora de si. Portanto, a consciência do homem o distingue das coisas e dos animais, que são em-si, ou seja, como não são conscientes de si, também não são capazes de se colocar do lado de fora para se auto-examinarem.
Quando o homem se percebe para-si, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência, descobre que, não havendo essência para lhe orientar o cominho, seu futuro se encontra disponível e aberto, estando portanto irremediavelmente condenado a ser livre.
Comentários
Enviar um comentário