Dualismo Platónico e Suas Implicações Na Metafísica Do Ocidente

Vida e obra de Platão (427-334 a.c)

Aristócles, chamado Platão por causa da sua largura de ombros, é o mais célebre dos filósofos gregos. Nasceu em Atenas, em 427 a.C. Seus pais foram Aristão e Perizona, ambos descendentes das mais nobres famílias da Grécia. Foi o primeiro aluno dos sofistas e de Crátilo, discípulo de Heráclito antes de se ligar a Sócrates aos 20 anos.

Em 387, Platão fundou a academia, a primeira universidade do mundo cuja estrutura de seu programa era constituída pela matemática e pela geometria.

A redacção dos seus vinte e oito diálogos espalha-se por cerca de quarenta anos: dos primeiros, ditos socráticos aos diálogos da maturidade e da velhice. A figura de Sócrates idealiza-se enquanto se precisa a teoria das ideais é, nos últimos textos são abordados problemas mais concretos.

O comunismo platónico inspirou numerosas doutrinas sociais e políticas, desde, especialmente as utopias de Thomas More e Campanella até as doutrinas socialistas modernas sofreram a sua influência. De um modo mais real, Platão exerceu uma influência profunda sobre o conjunto de pensamento ocidental, tanto no domínio da teologia (Muçulmano, Judaica e Cristã), como na filosofia racionalista.

Segundo o dicionário de filosofia de G. Doirozoiv e A. Russell, dualismo designa-se a qualquer doutrina que, num determinado domínio de pensamento, defende a existência de dois mundos ou dois princípios irredutíveis.

Dualismo Cosmológico

Segundo Platão, existem dois mundos, o inteligível e o sensível, sendo o primeiro a causa do segundo.
No mundo inteligível encontra-se a ideia, o arché, como, a ideia de Bem, do Ser; a substância; o Espírito e a alma. Elementos que estão directamente relacionados com o conhecimento verdadeiro, a Episteme.

No mundo sensível, também denominado mundo terreno, encontram-se as cópias, as réplicas, as sombras das ideais existentes no mundo inteligível; a aparência, a matéria e o corpo. Elementos directamente relacionados com o conhecimento do povo opinativo e sensorial, a Doxa.

Mundo Inteligível

Para demonstrar a existência do mundo inteligível, Platão apresenta três argumentos:

a) Argumento da Reminiscência

Segundo Platão, as ideias como, a ideia de verdade, bondade, igualdade, a ideia universal do homem, não as tiramos da experiência. Portanto, o conhecimento actual é recordação de uma intuição que se deu em outra vida;

b) Argumento do verdadeiro conhecimento

Não existe ciência a não ser do verdadeiro. A verdade exige correspondência entre o conhecimento e a realidade. Mas o único conhecimento que merece o nome de ciência é o que diz respeito aos conceitos universais. Logo, deve existir um mundo inteligível, universal.

c) Argumento da contingência

Deve existir a ideia necessária e estática para que se explique o nascer e o perecer das coisas: uma coisa bela é bela não por certa combinação de cores mas porque é uma aparição terrena do belo em si. O dois é dois não pela adição de duas unidades, mas pela participação na dualidade.

Mundo Sensível

Platão afirma que existiam além das ideais, o caos e o Demiurgo (o artífice soberano).

O Demiurgo contemplando as ideias, compõe a matéria informe e assim, produz o mundo material. Terminada a formação do mundo, Demiurgo infunde nele uma alma universal a qual tem como função conservar a vida do mundo, sem necessidade de uma intervenção contínua do Demiurgo.

Dualismo Ontológica

On significa ser, Platão no dualismo ontológico trata exclusivamente do ser, e dos níveis do se.

Para Platão, há duas espécies de realidade: uma visível que jamais mantém identidade, e outra invisível idêntica a si mesmo.

Existem na escala dos seres quatro graus, a saber, dois no mundo sensível: as coisas sensíveis e as imagens. E dois no mundo inteligível: as ideias éticas e metafísicas, e as entidades matemática.

Ideia de bem/ser

Significa a verdadeira realidade. O suporte de toda existência. É a realidade das coisas existentes.

Objectos ideais das ciências

São todos os objectos de estudo das ciências. A este nível o estudo das figuras geométricas, dos problemas abstractos e as notas musicais, ajudam a preparar a alma para a compreensão do mundo inteligível.

Corpos visíveis

Incluem-se aqui todos os objectos da natureza, como por exemplo os animais, as plantas e todas as outras coisas.

Sombras

São as imagens reflectidas dos corpos. São também os reflexos visíveis num lago.

Dualismo Gnoseológico

Na problemática do conhecimento, Platão distingue dois tipos de conhecimento, o conhecimento intelectivo e o conhecimento sensível.

A distinção radical existente no mundo sensível entre as coisas e as ideais corresponde no mundo do conhecimento à uma distinção igualmente radical entre sensação e intelecção.

Os sentidos e o intelecto têm objecto próprio, o objecto dos sentidos é o mundo sensível, e o objecto do intelecto é o mundo ideal.

Os sentidos podem no máximo chegar a formar uma opinião (dóxa) sobre seu objecto. Ao passo que o intelecto produz um verdadeiro conhecimento (episteme), um conhecimento universal.

As ideias, os conceitos universais do conhecimento intelectivo não podem derivar-se por abstração do conhecimento sensitivo. Pois, as ideias depois de tê-las apreendidas no Hiperurânio, lembrama-nos delas quando estamos em contacto com as coisas materiais.

Platão distingue dois graus do conhecimento sensitivo (eikasia e pístis) e dois no conhecimento intelectivo (diánoia e nóesis).
Sendo a Eikasia a apreensão das imagens, a Pístis a percepção das coisas sensíveis, acompanhada da confiança na realidade dos objectos aprendidos pelos sentidos, a Nóesis o conhecimento directo e intelectivo da ideia pura, e a Diánoia o conhecimento das entidades matemáticas da na realidade dos objectos aprendidos pelos sentidos.

Para ilustrar a passagem dos graus do conhecimento inferior ao superior, Platão recorre ao mito da caverna. O mito mostra que a passagem de um grau para o outro se dá muito lentamente e com grande esforço. E que exige uma conversão, uma total mudança de mentalidade.

Dualismo Antropológico

Do dualismo do conhecimento, Platão procede o dualismo antropológico. Com efeito, se existem dois tipos de conhecimento, o sensível que depende do corpo, e o intelectivo dependente da alma, e se eles são tão diferentes, então o seu suporte, o corpo e a alma, também devem ser diferentes. O homem é assim, uma alma encarcerada num corpo. Mas se o conhecimento intelectivo é muito mais perfeito que o sensitivo, também a alma que o produz deve sê-lo.

O corpo significa a matéria, os sentidos, a prisão, o engano. A alma significa o espírito, a inteligência, a razão, a consciência, o conhecimento, etc.

Dualismo Ético

Toda a filosofia de Platão tem uma orientação ética: ela ensina o homem a desprezar os prazeres, as riquezas e as honras, a renunciar aos bens do corpo deste mundo e a praticar a virtude.

Platão acredita que o homem está na terra como de passagem e a vida terrena é como uma prova. A vida verdadeira é no além, no hades. No hades, a alma é julgada segundo os critérios da justiça e injustiça, da temperança e intemperanç, da virtude e do vício, que consiste na prática do bem e do mal.

Na sua concepção ética, Platão distingue dois princípios irredutíveis, o mal e o bem.
Os piores males são os que atingem a alma. O mal pode ser o pecado, o erro, a falsidade, os sentidos, o próprio corpo, a matéria, o sensorial, etc. O bem são os valores éticos positivos como, o bem, a justiça, a coragem, a virtude, a alma, o espírito, etc.

Na República, Platão demonstra que o mais feliz é o justo no meio do sofrimento do que o injusto no mar de delícias.

Implicação do dualismo platónico na metafísica do ocidente

Platão foi o iniciador da tradição filosófica ocidental. Algumas das ideias desenvolvidas pela filosofia platónica, com destaque para o dualismo antropológico, tornaram-se os fundamentos da filosofia ocidental, especialmente da metafísica ocidental.

A teoria platónica segundo a qual, a virtude se identifica com o conhecimento e o bem com a verdade exerceu grande influência na filosofia grega, e concretamente aos autores cristãos.

Segundo Fílon (13 a. C-40 d. C), a visão platónica da realidade é idêntica, em substância a da Bíblia. Ele chegou a esta conclusão mediante a interpretação alegórica das escrituras. Com tal interpretação descobriu na Bíblia doutrinas platónicas que ela contêm.

A constituição do homem em Platão que fundamenta a existência da alma e do corpo é uma das mais nítidas influências de Platão na metafísica do ocidente, com efeito, surge na metafísica do ocidente teorias como a da espiritualidade e imortalidade da alma. Doutrinas que resolvem o problema da sobrevivência da alma. Ela não morre com o corpo, nem está sujeito a um ciclo de reencarnações, mas é mortal: é criada imediatamente por Deus à sua imagem e é destinada a encontrar nEle a felicidade sem fim. A escatologia é também uma implicação do dualismo platónico.

Fonte:

ABBAGNANU, Nicoll. História da filosofia, Presencial editores, Lisboa, 1969.
DUROZO, G. & RUSSELL, A. Dicionário de filosofia, Porto editora, Lisboa, 2000.
MONDIM, Baptista. Introdução a filosofia, Paulus, São Paulo, 1980.
REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da filosofia: antiguidade e idade média, 3° edição, Paulus, São Paulo, 1990.

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