A religião no mundo grego
Segundo o dicionário de filosofia, religião significa etimologicamente obrigação. Para Cícero, derivaria do relegere: aqueles que cumpriram cuidadosamente todos os actos de culto divino e, por assim dizer, os reliam atentamente. Foram chamados de religiosos-de relegere.
Na Grécia, berço da filosofia, a primeira explicação das coisas foi essencialmente mítica e ao mesmo tempo genuinamente religiosa.
Quando se fala de religião grega, é necessário distinguir entre a religião pública, que tem sua mais bela expressão em Homero e a religião dos mistérios.
Religião pública
Tem seu modelo na representação dos deuses e do culto que foi dada por Homero. É essencialmente hierofânica, antropomórfica e naturalista.
Hierofânica enquanto vê em qualquer evento cósmico uma manifestação do divino: tudo o que acontece é obra dos deuses. Todos os fenómenos naturais são provocados pelos numes: os trovões e os raios são arremessados do alto por Zeus, as ondas do mar são levantadas pelo tridente de poseidon, os ventos são impelidos por Éolo.
Antropomórfica enquanto os deuses são forças naturais calcadas em formas humanas idealizadas, aspectos do homem sublimados, personalizados, forças do homem cristalizadas em belíssimas formas. Os deuses da religião natural (pública) são pois, diferentes do homem comum apenas por quantidade e não por qualidade. É por isso que os estudiosos classificam a religião pública dos gregos como uma forma de naturalismo, uma vez que ela pede ao homem não propriamente que ele mude sua natureza, ou seja, que se eleve acima de si mesmo. Ao contrário pede que seja sua própria natureza. Fazer em honra dos deuses o que está em conformidade com a própria natureza é tudo o que se pede ao homem.
Outra característica da religião grega é não ser revelada mas natural. Os Gregos não tinham livros sagrados ou tidos como fruto de revelação divina. Por isso eles não tinham uma dogmática fixa e imutável. Pelo mesmo motivo não havia na Grécia uma casta sacerdotal encarregada da guarda do dogma.
Religião dos mistérios
Nem todos os gregos consideravam suficiente a religião pública, por isso, em círculos restritos desenvolveram-se os mistérios, com as próprias crenças específicas e com as próprias práticas. Entre os mistérios, os que mais influiram na filosofia grega foram os mistérios Órficos.
O orfismo e os órficos derivam seu nome do poeta Trácio Orfeu, seu suposto fundador, cujos traços históricos são inteiramente cobertos pela névoa do mito.
Os pontos mais importantes da religião dos mistérios (orfismo) são os seguintes:
a) No homem reside um princípio divino, um demônio, unido a um corpo por causa de uma culpa original;
b) Este demônio é imortal e, por isso não morre com o corpo, mas deve passar por uma série de reencarnações até expiar completamente sua culpa;
c) A vida órfica com suas práticas de purificação, é a única que pode pôr fim ao ciclo de reencarnações;
d) Por isso, quem vive a vida órfica entrará depois desta existência, no estado de felicidade perfeita, ao passo que quem vive outro tipo de vida será condenado a ulteriores reencarnações.
Como afirmam REALE & ANTISERI, o núcleo central do orfismo resulta que, o destino último do homem é o de voltar a estar junto aos deuses.
Diferença entre a religião pública e a religião dos mistério
A principal diferença entre a religião pública e a religião dos mistérios diz respeito às relações entre alma e corpo. Enquanto a religião pública tem uma concepção unitária da alma e do corpo, a religião dos mistérios professa uma concepção dualista.
Na religião pública não se impõe nenhuma asce, mas se encoraja o pleno desenvolvimento e a plena satisfação de qualquer capacidade, força e paixão. Na religião dos mistérios, impõe se uma ascese muito rigorosa.
Comentários
Enviar um comentário