A Morte na Filosofia
1. A Morte como Enigma
Cícero "filosofar não é outra coisa senão se preparar para a morte." 
A morte é o destino inevitável de todos os seres vivos. Só o homem tem consciência da própria morte. Por sua finitude, o homem aguarda ansiosamente o que ocorrerá após a morte. A crença na imortalidade, na vida depois da morte, simboliza bem a auto-negação da própria destruição e o anseio da eternidade.
Os estudos recentes  relacionam o aparecimento das primeiras angústias metafísicas do homem ao registo dos sinais de culto aos mortos. Portanto a morte se apresenta desde o início como uma fronteira que significa o prelúdio de outra realidade instigante, ininteligível, além de assustadora. 
A morte daqueles que amamos e a imanência da nossa própria morte estimula a crença a respeito da imortalidade. Segundo Jaspers, "existe algo em nós que não se pode crer susceptível de destruição." Por isso desde o início da cultura humana a fé religiosa reduzia o temor do desconhecido.
Através dos tempos, a consciência religiosa tem oferecido um conjunto de convecções que orientam o comportamento humano diante de mistérios da morte: quer rituais dos primitivos quer religiões mais elaboradas para garantir melhor destino à alm. Por isso, a angústia da morte tem levado à crença na aceitação do sobrenatural, do sagrado do divino.
2. As mortes simbólicas
Emil M. Cioran “Nos limites da vida, o que não é ocasião para a morte? Morremos por tudo o que existe e por tudo o que não existe. Cada vivência é, nesse caso, um salto no Nada.”
O homem não tem consciência apenas da morte enquanto fim da sua vida. A morte como processo de um clímax, é antecedida por diversas formas de morte que ocorrem o tempo todo na vida humana. O próprio nascimento é a primeira morte, é a primeira separação. Rompido o cordão umbilical, a antiga é cálida simbiose do feto no útero materno é substituída pelo enfrentamento do novo ambiente.
A morte
A oposição entre o velho e o novo reflecte a primeira ruptura e explica a angústia do homem diante do seu próprio dilaceramento interno: ao mesmo tempo que anseia pelo novo, teme abandonar o conforto e a segurança da estrutura antiga a que já se habituou.
Os heróis, os santos, os artistas, os revolucionários são sempre os que se tornam capazes de enfrentar o desafio da morte, tanto liberal como simbolicamente, por serem capazes de construir o novo a partir da superação da velha ordem.
3. A filosofia e a morte
Horácio "Marchamos todos para a morte; nosso destino agita-se na urna funerária; um pouco mais tarde, o nome de cada um dali sairá e a barca fatal nos levará a todos ao eterno exílio. "
Para Platão a serenidade do sábio diante da morte é o reconhecimento de que a separação (morte) significa a libertação do espírito.
Ao longo da história da filosofia, muitos pensadores abordaram a respeito da morte e da imortalidade da alma, a morte está em toda filosofia, ela se situa no horizonte de toda reflexão filosófica. É por isso que Platão afirma ser a filosofia uma meditação da morte, e Montaigne diz que "filosofar é aprender a morrer".
Segundo Heidegger, o ser do homem como possibilidade, como projecto, o introduz na temporalidade. Isso significa que o futuro se revela como aquilo para o qual a existência transcende. O existir humano consiste no lançar-se contínuo às possibilidades, entre as quais se encontra a situação-limite representada pela morte, a qual possibilita o olhar crítico sobre o quotidiano. É nesse sentido que podemos considerar o homem como um "ser-para-a-morte". 
Para Heidegger, só o homem autêntico enfrenta a angústia e assume a construção da sua vida. O homem inautêntico foge da angústia, refugia-se na impessoalidade, nega a transcêndencia e repete os gestos de "todo o mundo" nos actos quotidianos. No mundo do homem inautêntico, até a morte é banalizada, e dela se fala como se fosse um acontecimento genérico, longínquo e intangível . A impessoalidade tranquiliza e aliena o homem, confortavelmente instalado num universo sem indagações.
Há a recusa de reflectir sobre a morte como um acontecimento que nos atinge pessoalmente. Sartre, referindo-se à sua infância em As palavras diz: "A morte era minha vertigem porque eu não amava viver: é o que explica o terror que ela me inspirava (...) Quando mais absurda a vida menos suportável é a morte ".
Na teoria sartriana, ao contrário da de Heidegger, a consciência da morte retira todo significado à vida, pois a morte é a "nadificação" dos nossos projectos, a certeza de que um nada total nos espera. E conclui pelo absurdo da morte, e simultaneamente, da vida, que é uma "paixão inútil".
Mas seja a morte considerada, como em Heidegger, algo que dá sentido à vida; ou, como em Sartre, a dimensão do absurdo. O que nos intriga é a recusa que o homem contemporâneo manifesta em abordar a temática do morrer humano. 
Fonte:
ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução a Filosof i a. São Paulo: Ed. Moderna, 2009
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